1 de nov. de 2008

Programa de casal

- Juliano Antunes

Olho o relógio. Passava alguns minutos das seis da tarde. Já tinha fechado minha página de economia. Bolsa em baixa, dólar em alta, uma pequena subida na inflação, mas nada que assustasse o mercado. Tudo corria bem no país que conseguia seguir em frente apesar da crise mundial.

Vou para casa após uma sexta-feira tranqüila na redação que trabalho, subo no ônibus pensando no que fazer naquela noite. Pensei em levar minha noiva ao cinema, quem sabe ver uma comédia romântica dessas que nenhuma mulher em sã consciência recusaria assistir. Sabia que estava passando um em que um cara se apaixona pela namorada de seu melhor amigo ou algo parecido. Claro que eu gostaria mesmo de ver o novo 007, mas tenho certeza que este não a agradaria tanto.
Desço do ônibus pouco depois das sete horas, tinha tempo de tomar um banho e comer algo fora ainda antes da sessão das dez. Caminho até minha porta, abro lentamente e vejo minha noiva sentada no sofá vendo um desses programas de briga de família. Dou um sorriso que é retribuído com um sorriso curto e um oi meio chocho. Dou boa noite e vou ate ela para dar um beijo, sou retribuído com um selinho. Depois de estranhar a recepção não muito calorosa fico imaginando o que acontecera.
Será que esqueci alguma coisa?
Não lembro de ela ter me pedido para comprar algo.
Será que hoje é aniversário dela?
Não, estamos em outubro, seu aniversário é em Dezembro.
De sua mãe talvez.
Pergunto como vai minha sogra querida. Ela responde perguntando por que o meu interesse nela.
- Porque faz tempo que não falo com a sua mão amor, apenas queria saber se está tudo bem, se tem falado com ela.
- Sim ela está bem, acabou de voltar de viagem com me pai.
- Mas eles não estavam separados?
- Sim estavam, na verdade estão.
- E porque viajaram juntos?
- E não pode?
- Pode, eu acho.
Já vi que não havia me esquecido de nada, sabia que ela tinha viajado, mas preferi me fazer de louco e ouvir ela contar sem esticar o assunto. Não sei por que, mas mulheres precisam conversar um pouco antes de dizermos o que realmente queremos, então tentei ter um pouco de diálogo.
- Como foi teu dia amor?
- Como sempre, todo mundo me atucanando, a chefe parece que não sabe fazer nada, e sempre sobra pra mim.
- Mas como assim? Ela brigou contigo?
- Brigar não brigou, mas eu tenho que fazer tudo. Escrever planilhas, atender ao telefone, atender os pacientes... Essa gente não sabe fazer nada sozinha?
- Mas amor, não é esse o teu trabalho?
- Sim, mas são incapazes de atender o telefone ao menos!
Preferi não continuar esse assunto, no caso de estresse no trabalho é melhor partir para outro. Vamos ao assunto cinema, ninguém consegue ficar brabo falando de cinema.
- Sabia que ta passando um filme com aquele ator que tu gosta?
- Eu ouvi falar.
- Não te deu vontade de ver?
- É.
- Como assim é? Isso é um sim?
- É.
- Então podemos ir ao cinema hoje, o que tu acha? Podemos jantar fora e depois ir ao cinema.
- Não sei.
- Como não sabe? Já tem janta pronta?
- Não, nem fiz nada. Mas não to com animo para cinema.
- Como assim não ta com animo para cinema? Ta tudo bem?
- Uhum.
Putz. Eu temia por isso. Eu perguntei se estava tudo bem e ela respondeu “Uhum”. Claro que isso só podia significar uma coisa: que havia um problema sim, e era sério, provavelmente algo que eu tinha feito de bem errado. Era hora de apelar.
- Tem certeza que ta tudo bem? Por acaso eu fiz alguma coisa e não sei?
- Tenho. Tu não fez nada.
- Humm, então vamos comer alguma coisa fora e vamos ver esse filme.
- Ta, pode ser. Estou meio entediada mesmo, esse programa ta um saco. Essa gente só sabe reclamar na TV ao invés de fazer alguma coisa pela vida.
Já estava pensando que ela iria me botar pra fora de casa se eu a contrariasse pelo seu estado, quando o seu celular toca. Mas ela continua estática vendo o programa enquanto uma senhora desdentada chora porque seu filho de quase 30 anos era espancado ao vivo pela mulher cujo filho ele não queria assumir a paternidade.
- Não vai atender amor?
- Não é ligação. É o despertador, ta na hora do meu anticoncepcional.
- E tu não vai tomar?
- Não. Terminou a cartela ontem, agora só semana que vem.

6 comentários:

Stobäus disse...

Bah! Curti pacas ahsuahus me deu agonia afú. Essas conversas me arrepiam >.< HUAShAUHSuAHSuAUHS

Abração, cara! Temos que combinar de sair pra escrever pro blog ;D

Nessa Sehnem disse...

Odiei o texto.
(Na verdade, li 3 vezes. E em TODAS me acabei rindo!)

:D

Ana disse...

Cara, deveria existir uma lei de apoio as mulheres em certos períodos dos meses "/

E é, me acabei rindo também(y)

Eu tinha feito um comentário bem bonito e cheio de coisas clichês semana passada, mas aí deu erro, me revoltei (TPM rula o/) e não quis mais comentar. Mas agora o Louque me deu a notícia de que vcs vão sair, então me empresta tua noiva pra vermos 007, babarmos em Bond e falarmos mal da celulite das Bondgirl?:D

;*

Sobre mim? disse...

MUITO bom ;)

M. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
M. disse...

" Curti pacas me deu agonia "

" odiei o texto , na verdade li três vezes e em todas me acabei rindo .."

" e é me acabei rindo também "

Como pode ver , não resta muito o que dizer ..
Tá Bom pacas parcero , abraço ...

" e é ,me acabei rindo também .."